domingo, 17 de outubro de 2010

Quero escrever aqui algumas considerações sobre o FENAPO que está acontecendo desde o dia 15 de Outubro, sempre as sextas e sábados (às 20H) e domingos (às 19H).
O projeto é maravilhoso não só em sua realização que está muito bem organizada pela equipe do FENAPO, que é dirigida pelo Elíabe Vicente, mas também pelo aspecto de impacto cultural ao longo dos encontros.
Apesar de ser um Festival de Poesia que irá premiar com troféus os concorrentes em cinco categorias (poesia escrita, poesia declamada, poesia encenada, vídeo poesia e foto poesia), a grande contribuição, ao meu ver, é o encontro das pessoas, cada um com sua experiência de vida, com sua experiência artística, mostrando mais uma vez a grandeza do fazer artístico, e neste caso específico partindo da Poesia. Percebam que disse POESIA e não POEMA, pois a primeira está presente em tudo, num olhar, num respirar e até mesmo no silêncio ou num branco, quando alguém esquece o texto.
Parabéns aos organizadores do FENAPO e pela persistência na feitura deste Projeto, pois já se vão 11 anos de muita contribuição para Cultura, não somente de Osasco, mas de todos que participam dando sua contribuição em cena.
Quem quiser conhecer mais sobre os trabalhos realizados pelo Elíabe e sua Equipe do Teatro Grande Otelo, basta acessar o Blog do Cultura Oz (http://www.culturaoz.wordpress.com/).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De volta a ativa....

Meu último "post" foi em 28 de janeiro de 2010. Então, quero retornar a este grande exercício de reflexão e crítica no mínimo de uma forma interessante.

Então nada melhor do que falar de Arte e Política.

Coloco abaixo a "Carta Aberta ao Prefeito" que enviei ao Prefeito de Carapicuíba, Sr. Sergio Ribeiro, mais conhecido na cidade como "Serjão".

Até o momento não recebi nenhuma devolutiva do conteúdo. Esta mesma carta foi encaminhada de forma oficial aos 16 vereadores, me pronunciei na Câmara dos Vereadores sobre a Carta e a imprensa local também publicou o conteúdo.

Segue. Boa leitura, e façam seus comentários.


CARTA ABERTA AO PREFEITO

Ao Excelentíssimo Senhor Prefeito de Carapicuíba,
Sérgio Ribeiro.

Sou morador de Carapicuíba desde o ano de 1977, ano do meu nascimento. Nasci no bairro da Lapa em São Paulo, porém, sou cidadão carapicuibano desde o referido ano.

Estudei em escola pública no Ensino Infantil e Fundamental. Já no Ensino Médio consegui,com subsídio do trabalho e da família, estudar em colégio particular da cidade de Osasco.

Adentrei a academia e cursei Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas na
Faculdade Paulista de Artes, ou seja, sou professor licenciado em Arte e Teatro, ator
profissional e produtor cultural.

Venho por meio desta, revelar minha insatisfação em relação as políticas públicas no que tange a área cultural da cidade de Carapicuíba. Ao avaliar os investimentos na área cultural, números concretos disponibilizados no Portal da Transparência (acessado em 23/08/2010), pude constatar que no ano de 2010 não houve, até o momento, nenhum investimento na área de fomento a Projetos em Arte e Cultura e, analisando os dados do ano anterior (2009), houve um investimento de R$ 40.460,00 (quarenta mil, quatrocentos e sessenta reais) para a Organização não Governamental (CIDAP); quem conhece as ações desta ONG, sabe que sua atuação focaliza na formação de jovens aprendizes para o mercado de trabalho, não tendo relação direta com o fomento à Arte e Cultura, como foi designado no referido documento. Além disso, esta mesma organização recebeu a partir de dezembro de 2009 o valor de R$ 1.330.000,00 (Hum milhão, trezentos e trinta mil reais) para implantação de um Centro de Inclusão Digital e Aprendizagem Profissional (acessado em 23/08/2010).

Revela-se como grande motivador desta CARTA ABERTA AO PREFEITO, a apresentação que a Prefeitura de Carapicuíba ofereceu à população no dia 21 de agosto de 2010, no calçadão, o espetáculo “Friziléia – Uma esposa à beira de um ataque de nervos”, estrelado pela atriz “global” Elizabeth Savalla.

Para quem acompanhou este espetáculo e possui um mínimo de senso crítico, percebeu que a realização do mesmo não veio contribuir para a cultura local, pois o espetáculo, apelativo e duvidosamente engraçado, possuía inúmeros termos chulos, bem como gestos obscenos, (a saber: cú, masturbação, puta, vagabunda etc.), e aqui cabe ressaltar que não há nesta crítica nenhum puritanismo, mas sim uma análise contextual, pois foi lamentável presenciar crianças de todas as idades naquele espaço aberto, ouvindo estas barbaridades, vindo de um espetáculo estrelado por uma figura pública com projeção nacional. Além do mais a produção do espetáculo não divulgou à população a classificação etária do mesmo.

Alguns amigos que assistiram ao espetáculo comentaram: “A Prefeitura de Carapicuíba foi infeliz em colocar um espetáculo de tamanho mal gosto. Vimos naquele palco a reprodução diária da televisão brasileira: muito palavrão e nenhuma informação”.

Mas, não foi apenas o espetáculo que gerou em mim esta indignação, mas também a fala da atriz ao término da apresentação, pois em português claro disse que a população da cidade de Carapicuíba não sabe o que é teatro, e que agradece ao Prefeito por ter comprado o espetáculo “Friziléia”. Digo a esta atriz que quem não sabe o que é teatro, e teatro de boa qualidade, é a produção que ela encabeça e que está percorrendo toda a grande São Paulo, “esvaziando” os cofres públicos.

Minha intenção não é criticar a posição do Prefeito que se interessou em trazer cultura à cidade, mas sim ressaltar a importância em investir verba pública em algo realmente que contribua de forma positiva e significativa para a população da cidade.

Como citei, anteriormente, sou professor, ator e produtor cultural, e fico muito
decepcionado quando percebo a falta de incetivo e investimento para a produção local, que muitas vezes precisa e deve buscar outras praças para mostrar seu trabalho de investigação e experimentação artística.

Já se faz necessário que seja criada uma comissão que discuta os rumos e ações das políticas públicas da área cultural do Município, pois a cidade possuiu inúmeros grupos de teatro, cito alguns de memória (Cia Karas e Bokas, En Cena, Garrafita, Cia Puppets, Cia de Artes Balú, Educaarte, Camaleão dentre tantos outros, com linguagens diferenciadas, oferecendo um grande painel rico em diversidade, alguns ainda em processo de formação, sendo ainda considerados amadores, e outros que já possuem capacitação profissional e atuação neste mercado cultural.

Outra questão que se faz necessária discutir são os equipamentos culturais disponíveis na cidade. Temos no centro da cidade, ao lado da Câmara Municipal, o Teatro Municipal Jorge Amado, espaço destinado à apresentações artísticas e cursos de diversas áreas da cultura. Porém, efetivamente, o uso do espaço apresenta-se deficitário, pois os equipamentos são quase impossíveis de serem usados de forma adequada. Um exemplo disso é a iluminação, que dificilmente pode ser afinada, gerando riscos de acidentes a quem se aventura a usar os equipamentos, já que foi instalada de forma inadequada, fora de padrão usual para uma casa de espetáculos.

Para eventos que não tenham um cunho artístico, o teatro cumpre uma função: reunir
pessoas, porém, este equipamento público como o próprio nome diz: Teatro, objetiva abrigar espetáculos de teatro, que exigem além da qualidade dos artistas envolvidos, uma qualidade estética que a iluminação se faz necessária, pois ela representa elemento importantíssimo na concepção de uma peça teatral.

Existem várias outras questões para serem abordadas, porém neste momento, preciso ser o mais sucinto possível, aguardando uma devolutiva do prefeito, que certamente tem interesse pelo exercício da democracia e do aprimoramento das ações e da qualidade das produções culturais do Município de Carapicuíba.

Carapicuíba, 24 de agosto de 2010.

Alexandre Pasqüelli
Professor, Ator e Produtor Cultural
DRT nº 28449/SP
11 4184-6795
11 8590-7175